Escrevo este texto para relatar uma segunda visita que fiz a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). No ano passado eu estive na UPA da Caxangá, acompanhando uma amiga e desta vez estive na UPA da Cidade Tabajara, na cidade de Olinda.
De acordo com a Secretaria de Saúde do Governo do Estado de Pernambuco[1] as UPAs servem para:
“Sem substituir os PSFs e as policlínicas municipais, as UPAs ajudaram a desafogar as grandes emergências com um atendimento rápido, de qualidade e humanizado. Tiveram também um papel fundamental de suporte aos novos hospitais metropolitanos.”
Não foi bem o que ocorreu na Unidade Gregório Lourenço Bezerra (UPA Cidade Tabajara), inaugurada no dia 04 de janeiro de 2010.
Chegada
Chegamos na unidade e o procedimento foi o mesmo: pegar uma ficha para ser chamada, ir à uma sala para ver a prioridade do atendimento e aguardar mais uma vez para a destinação do atendimento. Nesse dia o painel parou de funcionar e logo os números das fichas não podiam ser mostrados. O pior de tudo é que o erro do painel, mostrado na tela, era bem básico, algo que apontava ser resolvido com um simples reiniciar da máquina. Mas não havia ninguém para fazer isso ou muito menos com uma simples noção de que isso poderia ser feito. O resultado encontrado pela unidade foi chamar as fichas verbalmente.
Penso que não haveria problemas em improvisar, já que o painel pifou, porém havia uma funcionária que não conseguia guardar os números na cabeça na hora da chamada e sempre “engolia” alguns números. Numa simples sequência de 234, 235, 236, 237 ela pulava do 234 para o 237. E qual o problema? Os pacientes, todos impacientes e com dores, reclamando que o número não havia sido chamado. Além de errar nas sequências, a nossa amiga ficava brincando com um outro amiguinho e ficava rindo alto. Não sou contra a felicidade do funcionário, mas vê-lo cometendo erros e rindo e você com dor, esperando um atendimento com demora é, no mínimo, uma falta de respeito.
Além de rir e errar os números, a nossa amiga funcionária deixou passar na frente uma moça que estava com um Policial. O policial deixou a moça lá, conversou com a funcionária (que demonstrava conhecê-lo) e seguiu caminho.
No final do turno da funcionária “chamadora de números”, ficou um funcionário que não fez diferença pois a primeira coisa que ele fez ao chegar no seu posto foi pedir para um servente ficar lá enquanto ele ia escovar seus dentes. Na volta, ele esquecia simplesmente os números para serem chamados. Lá de dentro, uma funcionária dizia: “chame os números 351 e 352”, e o nosso amigo, na frente dos pacientes dizia: “fichas números 35…”, e voltava para perguntar a outra funcionária: “quais eram os números mesmo?”.
Os pacientes, cada vez mais impacientes.
Depois de uma hora, a minha amiga foi chamada pelo nome. A funcionária que lhe atendeu pediu para que fosse à outra sala. Uma outra sala de espera… Nesta sala, uma tremenda confusão. Os médicos chamavam pelo nome e a disposição das cadeiras deixava com que você ficasse de costas para duas salas. Na hora da chamada, uma verdadeira bagunça para ouvir.
No atendimento médico, a médica mal tocou na minha amiga. Perguntou logo o que ela tinha e antes que falasse algo, teve sua sala invadida por um outro médico. Falo invadida porque o profissional não teve a educação de bater na porta, que estava fechada. O médico mal entrou e o antedimento foi pausado para um desabafo da médica com o médico. Ela falou que já tinha atendido 29 pacientes e que o ritmo na UPA era louco e que ela estava cansada. Depois do desabafo ela se virou, preencheu uns papéis e disse que minha amiga fosse tomar uma injeção e que procurasse um especialista para o seu problema.
Termino aqui este relato mostrando um pouco da realidade da UPA que não condiz com o que foi citado acima, principalmente quando se fala em atendimento “humanizado”. Sei que a precarização da saúde pública não é novidade, mas me achei no dever de relatar isso aqui.
Antes de terminar fica o conselho: tenha bastante coragem para entrar no banheiro de lá, certo?
Notas
Fonte da Imagem: http://www.geraldoresende.com.br/media/images/3302/3302/4f5b643f540f6f4058ebb6155ede24a7250d89b34eb1e.jpg